Exigências colocam em risco hospitais e entidades filantrópicas

Matéria publicada no Jornal Estado de São Paulo

Nos últimos 10 anos, foram fechados no Brasil mais de 2.100 mil hospitais que prestavam atendimento ao SUS (Sistema Único de Saúde). A situação é resultado da soma da defasagem da tabela de procedimentos SUS — que não é reajustada há mais de 15 anos —, os parcos recursos do governo federal para manter o trabalho e a inadimplência dos planos de saúde. Soma-se ainda a esses pontos, o pacote de exigências da legislação, que contempla obrigações difíceis — e até mesmo impossíveis — de serem cumpridas. Antes de falar sobre à que elas se referem, é importante ressaltar que a questão não é ser contrário às normas – de maneira alguma. Toda lei vem com a intenção de garantir direitos e também determinar deveres que, conjuntamente, trazem ordem e equilíbrio. O fato é a necessidade de se discutir antes junto aos envolvidos, para analisar a viabilidade de cumprimento e, se houver dificuldades para tanto, todas as esferas, unidas, poderem avaliar outras formas de contribuições que mantenham o respeito ao próximo.

Destacamos aqui duas determinações das quais as instituições filantrópicas têm dificuldades em executá-las. Uma delas é a Lei de Cotas (Lei nº 8213/91), que delibera sobre a inserção de preencher de 2% a 5% dos cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência. Isso é uma tarefa árdua e de difícil missão, uma vez que o percentual estipulado é muito elevado para os serviços de saúde, especialmente ao considerar as particularidades do setor e a natureza das atividades desenvolvidas e a assistência ao paciente.

Há, ainda, uma outra peculiaridade: no caso das Santas Casas, por exemplo, boa parte dessas instituições são tombadas por questões históricas e não podem descaracterizar o espaço físico. Sem discussão prévia do assunto, a questão ficou permeada de dúvidas e preocupações em não conseguir adequar-se ao que pede a lei e sofrer sanções.

Outra lei – nº 17.234/20, sancionada no início de janeiro, estabelece que hospitais públicos e privados do Estado, inclusive incluindo os filantrópicos, criem uma sala de descompressão (espaço que a empresa oferece aos colaboradores para que eles se desconectem um pouco do trabalho), para ser utilizada pelos profissionais de enfermagem. É imprescindível, claro, proporcionar bem-estar aos colaboradores, mas a norma esbarra na falta de infraestrutura dos hospitais e instituições filantrópicas, que com parcos recursos como já mencionado aqui, mal conseguem cumprir com a folha de pagamento dos funcionários. Em meio aos obstáculos, é feito todo o possível dentro das condições existentes.

As instituições filantrópicas passam por diversas dificuldades e muitos desafios para se manterem em atuação. É preciso um olhar especial do poder público para que entendam as limitações do setor filantrópico e, juntos, pensem em alternativas viáveis para fazer mais com menos, mantendo sempre o respeito e dignidade que são as marcas da filantropia.

 

 

Edison Ferreira da Silva

dredisonfs@uol.com.br

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Dr. Edison Ferreira da Silva

  • Direito – Universidade Braz Cubas – UBC
  • Administração – Faculdade de Administração Alvares Penteado – FAAP
  • Administração Hospitalar e Gestão de Saúde – Fundação Getúlio Vargas – FGV
  • Saúde Ambiental e Gestão de Resíduos de Saúde – Universidade Federal de Santa Catarina UFSC e Fundação Getúlio Vargas – FGV
  • Gestão e Tecnologias Ambientais – POLI/USP

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